Mascherano ajusta o elenco ao redor de Messi
Relógio na pressão e objetivo claro: vencer agora. Recém-chegado ao comando técnico, Javier Mascherano confirmou que o Inter Miami corre para fechar “um ou dois” reforços antes da viagem de pré-temporada marcada para 29 de janeiro. A prioridade é dar lastro ao time que segue centrado em Lionel Messi, 37 anos, em ano de contrato que vai até o fim de 2025 e sob a cobrança pública do proprietário Jorge Mas por títulos.
O contexto pesa. Em 2024, o clube deixou a fase mata-mata cedo, algo que doeu no elenco após uma campanha de pontos fortes na temporada regular. A troca no banco foi rápida: Mascherano assumiu no fim de novembro, dias depois da saída de Gerardo “Tata” Martino. Desde então, a direção acelerou o mercado para equilibrar a equipe em setores-chave e reduzir a dependência de momentos individuais.
Algumas peças já chegaram. Fafa Picault, agente livre após passagem pelo Vancouver Whitecaps, adiciona profundidade e velocidade pelos lados. Com oito temporadas de MLS, mais de 200 jogos, 57 gols e 30 assistências, o atacante de ascendência haitiana entra como um especialista em atacar espaços e pressionar a saída adversária. Tadeo Allende, emprestado por um ano pelo Celta de Vigo, oferece outra opção de mobilidade no ataque, com leitura de área e perseguição constante ao portador da bola. E Gonzalo Lujan, zagueiro vindo do San Lorenzo, é um velho conhecido do novo técnico, que o comandou na seleção olímpica da Argentina — um elo útil para acelerar a adaptação tática.
As perdas também foram pesadas. Diego Gómez seguiu para o Brighton por cerca de US$ 13 milhões depois de dois anos na Flórida, com sete gols e seis assistências em 40 jogos. Sua saída abre um buraco claro no meio-campo em termos de potência física, chegada na área e bola parada. Matías Rojas, outro meio-campista, também saiu, reduzindo alternativas para variar estruturas entre 4-3-3 e 4-2-3-1.
Mascherano não escondeu o plano: primeiro, recuperar a forma física e mental do grupo; depois, encaixar ideias de jogo e integrar os reforços assim que a papelada estiver concluída. A familiaridade com parte do elenco ajuda. Além de Messi, o treinador tem laços com ex-companheiros de Barcelona — Jordi Alba, Sergio Busquets e Luis Suárez — e conhece de perto jovens como Tomás Avilés, Benjamin Cremaschi, Facundo Farías e Federico Redondo, todos com passagens pela base argentina. Essa ponte entre líderes experientes e talentos em ascensão é um trunfo para acelerar processos.
Numa liga de calendário apertado, começar a pré-temporada com o grupo praticamente fechado é um diferencial. A janela impõe prazos para vistos, transferências internacionais (ITC) e registro junto à MLS. Há ainda o xadrez das regras: vagas de estrangeiro, mecanismos como TAM/GAM e o limite de Salário Designado (DP) moldam perfis de contratação. Por isso, a diretoria mira nomes que resolvam “lacunas específicas” sem travar manobras financeiras para o meio do ano, quando o mercado reabre e oportunidades surgem.
- Chegadas: Fafa Picault (livre), Tadeo Allende (empréstimo do Celta de Vigo), Gonzalo Lujan (San Lorenzo).
- Saídas: Diego Gómez (vendido ao Brighton), Matías Rojas (deixou o clube).
- Pendências: 1 a 2 reforços para fechar o elenco antes da viagem de 29 de janeiro.
O recado de cima é direto. Jorge Mas quer taças. Isso significa elenco profundo para atravessar viagens longas, jogos em calor pesado e semanas com partidas em sequência. Também significa gestão de minutos para veteranos: Messi, Suárez, Alba e Busquets definem a identidade do time, mas precisam de uma base que sustente a intensidade quando as pernas pedirem descanso.
O que falta no mercado e como o Inter Miami quer jogar
Onde devem cair as últimas fichas? A saída de Diego Gómez indica a necessidade de um meio-campista “do boxe ao boxe”, capaz de dar perna, pressão e chegada na área. Outra carência provável está nas pontas: um atacante de lado que mantenha a amplitude e ganhe duelos no um contra um quando Picault não estiver em campo. E, dependendo das negociações, uma cobertura de lateral ou zaga para manter a linha defensiva estável diante de maratona de jogos.
Mascherano sinaliza um time compacto, agressivo na pressão pós-perda e com circulação rápida até o último terço. Não é reinvenção da roda: é execução. Com Busquets como maestro na base da jogada, Alba oferecendo profundidade por fora e Messi flutuando entre linhas, o desenho mais comum tende a ser um 4-3-3 que vira 3-2-5 na fase ofensiva, com laterais alternando alturas e extremos fixando zagueiros. Sem a bola, a ordem é encurtar espaços e direcionar a saída rival para zonas de pressão, uma marca do que Mascherano aplicou em seleções de base.
Para isso funcionar por 10 meses, o clube precisa de peças que mantenham o nível quando entrarem. A confiança do técnico nos jovens é um ponto-chave. Avilés pode crescer com minutos em jogos grandes; Cremaschi oferece chegada na área e leitura para pisar na entrelinha; Farías amplia a criatividade no terço final; Redondo sustenta a posse sob pressão. Todos esses nomes têm margem de evolução sob um treinador que os conhece e sabe como potencializá-los sem queimar etapas.
Do lado de fora, ainda há ceticismo com o currículo curto de Mascherano como técnico principal. É compreensível: a MLS pune quem demora a se ajustar. A direção, porém, banca o projeto. O argumento interno é que a gestão de vestiário, a clareza de ideias e a química com o núcleo experiente encurtam o caminho. A pré-temporada vai mostrar se essa aposta se traduz em sinergia de campo.
No curto prazo, o cronograma é apertado. Fechar negociações, concluir exames médicos, garantir vistos e integrar os recém-chegados ao plano tático em menos de um mês é operação de guerra. Os amistosos da pré-temporada servirão para calibrar a pressão alta, a coordenação das linhas e a bola parada — setor que perdeu um dos batedores com a saída de Gómez. O objetivo é começar o ano com padrão claro, não com improviso.
Se as duas últimas contratações vierem na medida, o elenco ganha fôlego para perseguir a MLS Cup, além das outras frentes do calendário. Se atrasarem, a equipe começa a correr atrás do prejuízo logo nas primeiras rodadas. Por ora, o vestiário compra a ideia: recuperar o físico, limpar a cabeça e acelerar a adaptação dos novos. As próximas semanas dirão se o plano sai do papel no tempo certo.