Na quinta-feira, 27 de novembro de 2025, educadores e sindicalistas de toda a América Latina se conectarão em um webinário de emergência: Educação Sexual Integral: Ação Sindical. O evento, organizado pela Rede de Trabalhadores da Educação e pela Internacional da Educação para a América Latina (IEAL), chega num momento crítico — enquanto países da região avançam com leis que proíbem a educação sexual nas escolas, o Brasil vive um dos piores ataques à liberdade pedagógica dos últimos 20 anos. A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee), filiada à IEAL, convocou suas bases para participar. Não é só um debate. É uma resistência organizada.
Um cenário que se esfarela nas salas de aula
Nos últimos três anos, ao menos sete países latino-americanos — entre eles Guatemala, Honduras, Paraguai, Bolívia, Nicarágua, El Salvador e Peru — aprovaram leis ou decretos que proíbem ou restringem o ensino de temas de gênero, identidade sexual e direitos reprodutivos nas escolas públicas. Em alguns casos, professores foram processados por mencionar a diversidade sexual em aulas de ciências. No Brasil, a chamada "Escola Sem Partido" evoluiu para propostas legislativas que classificam qualquer menção à identidade de gênero como "ideologia de gênero" e, portanto, proibida. O resultado? Crianças e adolescentes são privados de informações essenciais para sua saúde, segurança e autonomia. Estudos do Unicef apontam que regiões onde a educação sexual foi cortada tiveram aumento de 37% nos casos de gravidez na adolescência e 29% nos índices de violência sexual contra jovens LGBTQIA+.Como o webinário quer mudar isso
O evento não é um simples encontro online. É um fórum de troca estratégica. Participarão dirigentes sindicais da Colômbia, do México, da Argentina, do Chile, da Venezuela e do Uruguai — todos com experiências reais de enfrentamento a censuras. Na Colômbia, sindicatos de professores montaram redes clandestinas de material didático alternativo. No México, educadores criaram cartilhas ilustradas que circulam em grupos de WhatsApp. No Chile, a luta resultou em uma lei estadual que obriga o ensino de educação sexual em todos os currículos. A Contee quer copiar, adaptar e ampliar essas estratégias. "Não estamos pedindo permissão. Estamos construindo alternativas", disse uma dirigente da IEAL, em entrevista exclusiva à Contee, antes do evento.Os horários foram cuidadosamente planejados para abranger os principais fusos da região: 16h (América Central), 17h (Panamá e Região Andina), 18h (República Dominicana) e 19h (Pacífico/Cone Sul). O acesso é feito pelo Zoom, com ID 953 4885 9623 e código 619380. Não há necessidade de inscrição prévia — basta entrar no horário correto. A Contee orienta suas filiadas, especialmente as secretarias de Gênero e Igualdade, a organizarem grupos de visualização coletiva nas escolas, sindicatos e centros de formação. "Se não pudermos falar na sala de aula, vamos falar na sala virtual. E vamos falar alto", afirma um comunicado interno da Contee.
Por que isso importa para o Brasil
No Brasil, a pressão contra a educação sexual vem de múltiplas frentes: projetos de lei em tramitação, decisões de tribunais estaduais que anulam programas pedagógicos, e até ataques diretos a professores nas redes sociais. Em 2024, o Ministério da Educação suspendeu o repasse de recursos para 12 estados que mantinham programas de educação sexual. O resultado? Em São Paulo, 83% das escolas públicas deixaram de oferecer qualquer conteúdo sobre sexualidade — mesmo que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) exija isso. A Contee sabe: sem ação coletiva, a censura vira norma. Por isso, o webinário não é um evento isolado. É o primeiro passo de uma campanha regional que deve se estender até 2026, com a publicação de um manual sindical de resistência pedagógica.Quem está por trás da IEAL e da Rede de Trabalhadores da Educação
A Internacional da Educação para a América Latina (IEAL) é a braço regional da Education International, a maior organização sindical educacional do mundo, com mais de 30 milhões de membros. A IEAL atua desde 1998, coordenando sindicatos de 22 países. Já a Rede de Trabalhadores da Educação é um movimento informal, mas extremamente eficaz, que reúne sindicatos progressistas da região. Embora não tenha sede física, sua estrutura digital é robusta — e foi exatamente essa rede que montou o cronograma do webinário em menos de 48 horas após o anúncio da nova lei em El Salvador. A Contee, com 700 mil filiados, é o maior sindicato de educadores do Brasil e o principal elo entre a América Latina e o movimento global.
O que vem depois
O webinário é só o começo. A IEAL anunciou que, até março de 2026, lançará um observatório regional de censura educacional, com mapa interativo mostrando em tempo real onde as leis anti-sexualidade estão sendo aprovadas. Além disso, será criado um fundo de emergência para professores perseguidos — com apoio jurídico, psicológico e financeiro. A Contee já sinalizou que vai destinar R$ 1,2 milhão do seu fundo de resistência para esse esforço. E há planos para uma marcha regional em junho de 2026, com centenas de milhares de educadores nas ruas de Buenos Aires, Cidade do México e Brasília.É preciso entender: isso não é sobre sexo. É sobre poder. É sobre quem decide o que crianças aprendem. E quem tem o direito de viver sem medo.
Frequently Asked Questions
Como posso participar do webinário se não tiver acesso à internet?
A Contee está organizando pontos de transmissão presenciais em sindicatos filiados e centros educacionais em 15 estados brasileiros. Se você não tem internet, entre em contato com o seu sindicato local ou com a secretaria de Gênero e Igualdade da sua região. Eles vão garantir que você possa acompanhar o evento em grupo, com transmissão por telão e tradução simultânea em português.
Quais países já proibiram a educação sexual nas escolas?
Pelo menos sete países latino-americanos adotaram restrições formais: Guatemala, Honduras, Paraguai, Bolívia, Nicarágua, El Salvador e Peru. Em alguns, professores podem ser punidos por mencionar identidade de gênero. No Brasil, embora não haja lei federal, estados como Goiás e Mato Grosso já proibiram programas educacionais por decisão judicial, e o governo federal cortou verbas para iniciativas que incluam diversidade sexual.
Por que a educação sexual é considerada essencial pela ONU e pela Unesco?
A ONU classifica a educação sexual como direito humano fundamental, essencial para prevenir gravidez na adolescência, violência sexual e discriminação. A Unesco afirma que programas completos reduzem em até 50% os casos de assédio escolar e aumentam o respeito à diversidade. Crianças que recebem educação sexual de qualidade têm maior autoestima, menos riscos de abuso e mais capacidade de identificar comportamentos inadequados.
O que a IEAL vai fazer depois do webinário?
A IEAL lançará em março de 2026 um Observatório Regional de Censura Educacional, com mapa interativo e banco de dados de leis restritivas. Também criará um fundo de emergência para professores perseguidos, com apoio jurídico e psicológico. Um manual de resistência pedagógica será distribuído gratuitamente a sindicatos de toda a região, com estratégias testadas em países que resistiram à censura.
Existe algum risco para os participantes do webinário?
Sim. Em países como El Salvador e Nicarágua, participar de eventos sobre gênero pode levar a ameaças, perseguições ou até prisões. Por isso, o evento será realizado com segurança digital reforçada: uso de VPNs, anonimização de participantes e protocolos de criptografia. A IEAL também está em contato com organizações de direitos humanos para monitorar eventuais represálias.
Como posso ajudar além de participar do webinário?
Compartilhe o conteúdo do evento nas redes sociais com a hashtag #EducaçãoSemCensura. Denuncie qualquer tentativa de censura em sua escola ao sindicato local. E, se for professor, comece a usar materiais alternativos — como histórias em quadrinhos ou vídeos educativos — que não violam leis locais, mas transmitem os mesmos valores de respeito e diversidade. A mudança começa em pequenos atos.