Cardeal Becciu condenado no escândalo de fraude financeira do Vaticano ligado à compra milionária em Londres

Cardeal Becciu: condenação histórica abala o Vaticano

Você já ouviu falar de um cardeal sendo julgado e preso pelo próprio Vaticano? Pois é exatamente isso que aconteceu com Giovanni Angelo Becciu, conhecido no alto escalão da Igreja por anos de rendimento político-diplomático e agora pelo maior escândalo financeiro recente do Vaticano. Becciu, que já representou o papa como diplomata em Angola e depois fez parte da cúpula da Cúria Romana, acabou sentenciado a cinco anos e meio de prisão. O crime: fraudes milionárias ligadas a um investimento do Vaticano em um prédio de luxo em Londres.

O caso estourou em dezembro de 2023 após uma longa investigação que mirou no rastro do dinheiro vindo do Óbolo de São Pedro, aquela coleta anual feita pela Igreja Católica para obras de caridade e ajuda direta aos pobres. Essa verba, supostamente sagrada, teria sido usada para pagar taxas absurdamente altas em uma compra de 350 milhões de libras (cerca de 200 milhões de dólares) de um edifício em uma das áreas mais caras da capital britânica. E foi aí que os investigadores perceberam que parte desse dinheiro circulava caminhos nada transparentes, beneficiando intermediários, familiares de Becciu e até uma espécie de espiã do Vaticano.

Fraudes, Angola e desafios à autoridade papal

Antes desse escândalo londrino, Becciu já era personagem central em Angola, onde atuou como representante do Vaticano entre 2001 e 2009. Lá, participou de negociações para investimentos de alto valor com autoridades angolanas e enfrentou atritos com católicos da região de Cabinda, um enclave marcado por disputas políticas e tensões internas entre fiéis. Embora detalhes sobre os contratos assinados naquele período nunca tenham vindo totalmente à tona, o palco já estava armado para polêmicas ligando a diplomacia e os interesses financeiros da Igreja.

Durante as investigações, descobriu-se que Becciu havia transferido €125 mil para uma ONG na Sardenha que, por acaso, tinha o irmão dele no comando. Além disso, outro repasse foi feito para uma consultora de segurança italiana – com fama de espiã – que teria embolsado a grana para uso próprio. Diante do escândalo, o papa Francisco, que vinha tentando mostrar ao mundo um Vaticano mais transparente e ético, aceitou em 2020 a renúncia de Becciu a todos os seus privilégios cardenalícios, inclusive o direito de votar como eleitor em futuro conclave. Mesmo assim, o cardeal agora condenado insiste que ainda tem direito a participar da escolha do próximo papa, peitando abertamente o pontífice.

Essa disputa tornou-se símbolo da crise interna do Vaticano: de um lado, o esforço de Francisco em moralizar as finanças da Igreja; de outro, figuras tradicionais dispostas a desafiar a própria autoridade da Santa Sé. Becciu, por sua vez, nega tudo, já recorreu da decisão e aproveita qualquer espaço para afirmar sua inocência. Mas a condenação e o estresse das revelações mostram como operações bilionárias, laços familiares e política eclesiástica muitas vezes andam mais juntos do que se imagina – e o preço dessa mistura pode ser bem alto para quem ousa arriscar.

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