Renúncia histórica: o verdadeiro motivo por trás da saída de Bento XVI
O anúncio da renúncia do Papa Bento XVI em 2013 deixou o Vaticano e fiéis ao redor do mundo em choque. Pela primeira vez em quase 600 anos, um papa abdicava do cargo, quebrando uma longa tradição de pontífices que seguiam até a morte. Publicamente, Bento citou o avanço da idade e fragilidade física como razões para abrir mão do trono de Pedro. Mas havia um detalhe pouco conhecido até então: a insônia crônica que o acompanhou nos últimos anos de papado desempenhou um papel fundamental — mais do que qualquer outra questão de saúde.
O jornalista e biógrafo Peter Seewald trouxe à tona detalhes do sofrimento silencioso do papa alemão. A raiz do problema começou depois da Jornada Mundial da Juventude em Colônia, em 2005. Desde então, Bento passou a depender de medicamentos para dormir, situação que só piorava a cada viagem longa. A rotina extenuante e as mudanças de fuso horário eram grandes vilãs.

A influência das viagens e a decisão de parar
Em 2012, durante uma viagem ao México e Cuba, o então papa foi orientado por seu médico a diminuir o uso dos remédios para dormir. Isso teve impacto direto em sua capacidade de realizar viagens transoceânicas. Bento percebeu rapidamente que não teria condições físicas de comparecer à Jornada Mundial da Juventude de 2013, marcada para o Rio de Janeiro — um evento central para a Igreja Católica, especialmente para mobilizar jovens fiéis.
Essa limitação pesou mais do que qualquer escândalo ou pressão política. Em uma carta ao biógrafo Peter Seewald, escrita em outubro de 2022, Bento XVI deixou claro que sua decisão foi fruto de reflexão consciente e responsável. Ele confessou que não conseguia mais dormir como antes e que a saúde já não permitia a execução das exigências internacionais do cargo. Deixar o posto era, segundo ele, uma medida para garantir que a Igreja tivesse um líder pleno de energia e condições físicas. Assim, abriu caminho para que o argentino Jorge Bergoglio, agora Papa Francisco, assumisse e se tornasse o rosto da Igreja naquele momento estratégico.
Bento XVI não se afastou do Vaticano após a renúncia. Ele se recolheu a um mosteiro dentro dos muros vaticanos, mantendo-se discreto, longe dos holofotes. A sua carta reacendeu a discussão sobre o peso das exigências sobre líderes religiosos, especialmente em tempos em que a missão papal exige cada vez mais presença internacional e contato com diferentes culturas. Nos bastidores, muitos agora enxergam a renúncia não como sinal de fraqueza, mas de coragem e maturidade.
O episódio mostra um lado pouco explorado do papado: o impacto real de doenças como a insônia na tomada de decisões de alcance mundial, e como a transparência, mesmo que tardia, pode mudar a compreensão da história recente da Igreja Católica.