Mudança diplomática dos EUA coloca foco total em Jerusalém
O Departamento de Estado dos Estados Unidos acaba de anunciar que vai fundir completamente o Escritório de Assuntos Palestinos (OPA) à sua Embaixada em Jerusalém. Com isso, os EUA voltam a adotar o modelo diplomático da era Trump, centralizando todas as operações sob o comando de um único embaixador. A decisão, tomada pelo Secretário de Estado Marco Rubio, não foi apenas administrativa, mas provoca impactos diretos nas relações com Israel, Palestina e todo Oriente Médio.
Essa mudança restaura a estrutura implementada em 2019, quando Donald Trump fechou o consulado norte-americano em Jerusalém — que atuava, de fato, como a missão norte-americana junto aos palestinos — e colocou toda a equipe sob um mesmo teto na embaixada. Na prática, a mensagem enviada é clara: os EUA reafirmam o reconhecimento de Jerusalém como capital indivisa de Israel e deixam ainda menos espaço para vozes palestinas terem acesso direto ao governo americano.
Durante o governo Biden, foi criada a OPA como saída negociada após Israel barrar os planos de reabrir o consulado. O objetivo era manter um canal dedicado aos assuntos palestinos, inclusive possibilitando que esses diplomatas enviassem relatórios independentes para Washington. Essa autonomia não agradou parte do governo israelense e críticos apontavam para a existência de mensagens contraditórias vindas da diplomacia americana. Agora, com a retomada do modelo centralizado, o novo embaixador Mike Huckabee vai comandar a integração das equipes e o fim dos relatórios paralelos enviados por diplomatas focados na Palestina.

Consequências para diplomacia e relações no Oriente Médio
A medida reforça a postura dos EUA de alinhar sua política externa àquela que ganhou forma sob Trump, especialmente depois dos Acordos de Abraão, quando os americanos passaram a priorizar a construção de pontes entre Israel e países árabes, deixando de lado demandas históricas dos palestinos. O governo de Netanyahu vê essa decisão como mais um sinal de apoio dos Estados Unidos à sua agenda, principalmente no que diz respeito ao status de Jerusalém, cidade disputada e símbolo das tensões regionais.
Para a liderança palestina, a sensação é de isolamento. Sem um canal próprio junto ao governo dos EUA, a comunicação passará a ser mediada pela mesma equipe que lida com as questões israelenses. Isso diminui a capacidade dos representantes palestinos em Washington de apresentar sua versão dos fatos de forma autônoma.
Especialistas em diplomacia apontam que essa mudança pode dificultar negociações no longo prazo e fragilizar qualquer plano de paz com duas nações. Por outro lado, parceiros de Israel consideram a estratégia mais transparente. Huckabee, veterano em relações políticas conservadoras, terá o desafio de unir quadros com missões e cultura diplomática próprias — um trabalho que, segundo a previsão do Departamento de Estado, vai acontecer já nas próximas semanas.
Aos olhos do governo dos EUA, a fusão do OPA à embaixada é uma maneira de evitar confusões nos canais diplomáticos e reafirmar compromissos estratégicos. A pergunta que fica: como será possível equilibrar interesses tão divergentes quando a própria estrutura de representação já começa sem espaço para diálogo igualitário?